Um carisma é um dom de Deus para a Igreja e para o mundo.
Uma vez que ninguém pode esgotar as riquezas de Cristo, que é a imagem perfeita
de Deus (2 Cor. 4, 4), cada carisma existente na Igreja exprime um aspecto da
missão de Cristo na proclamação da Boa Nova e, através da Sua morte e
ressurreição, a missão de reconciliar a humanidade inteira com Deus.
O carisma carmelita não é
propriedade exclusiva da Família Carmelita; nós somos depositários e temos o
sagrado dever de o transmitir às gerações frituras e de o partilhar com as
pessoas com quem convivemos. Naturalmente, cada geração deixa a sua marca no
carisma pela maneira como o entende e o vive. Que espécie de marca deixaremos
nós?
Nos anos sessenta, o Concílio
Vaticano II exortou todas as Ordens Religiosas a reexaminar as suas origens e a
compreender melhor o ímpeto inicial da sua fundação. Não se encontra, nos
princípios da Ordem Carmelita, um fundador famoso, mas um grupo de homens que
chegaram ao Monte Carmelo de várias partes da Europa e que procuraram viver em
obséquio de Jesus Cristo na terra onde Ele próprio viveu e morreu. Mais tarde,
este grupo, desejoso de uma estrutura formal e de um reconhecimento oficial por
parte da Igreja, pediu a Alberto, Patriarca de Jerusalém, que lhe redigisse uma
fórmula de vida adaptada a eles. Ele acolheu o pedido dos eremitas entre 1206 e
1214 e este documento foi aprovado como “Regra” pelo Papa Inocêncio IV, em
1247, com algumas pequenas modificações que permitiram aos eremitas carmelitas
viver como frades no meio do povo.
Esta Regra é inspiração para
muitas e variadas formas de vida carmelita no mundo de hoje. A Ordem do Carmo,
como a maior parte dos grupos religiosos antigos, atravessou momentos escuros e
momentos de luz na história da sua vida. Os Carmelitas Descalços formam outro
grande ramo do mesmo tronco e, hoje, as duas Ordens mantêm excelentes relações
e estão em diálogo contínuo.
Oração, Fraternidade e Serviço
O Carmelo centra-se em Jesus Cristo, a quem nós seguimos e nos empenhamos em servir. Os grandes modelos da nossa forma de vida são a Virgem Maria e o profeta Elias. Com eles temos também a inspiração dos grandes santos do Carmelo: Santa Teresa de Jesus, São João da Cruz, Santa Maria Madalena de Pazzi, Santa Teresinha do Menino Jesus, o Beato Tito Brandsma e muitos outros. O valor central do carisma carmelita é a contemplação entendida como uma íntima relação com Deus em Jesus Cristo, que transborda numa vida de oração e fraternidade, na qual procuramos servir o nosso próximo conforme os nossos dons particulares e a nossa vocação. A contemplação não é somente algo para alguns cristãos; todos somos chamados a ser íntimos amigos de Deus e a nossa amizade com Deus produzirá efeitos notáveis na vida quotidiana.
Não podemos amar a Deus, a quem não vemos, se não
amamos o nosso próximo, que vemos (1 Jo. 4, 20). Por isso os Carmelitas
exprimem o seu amor a Deus em qualquer tipo de serviço ao seu próximo e
procuram seriamente viver em harmonia com os seus irmãos e irmãs. A Família
Carmelita compreende religiosos e religiosas que se dedicam ao apostolado e
vivem em comunidade, monjas de clausura que vivem a sua vocação em comunidade
de vida, de oração e de sacrifício pelo bem do mundo, eremitas e muitos leigos
que vivem em famílias ou sozinhos. Tentamos viver os valores da oração, da
fraternidade e do serviço, conforme a nossa vocação particular.
Quando iniciamos seriamente uma
relação com Jesus Cristo, esta nos levará a um processo de transformação.
Gradualmente, mudará o modo como percebemos a realidade e vivemos no mundo. As
vezes, esta mudança pode ser dolorosa, porque nos vemos realmente como somos,
não como pensamos que somos, mas este sofrimento transformar-se-á em alegria,
quando, pouco a pouco, nos convertermos naquilo que Deus sabe que podemos ser.
A Virgem Maria e o profeta Elias
Todos nós Carmelitas encontramos
na Virgem Maria a nossa Mãe e Irmã, que nos acompanha ao longo de toda a vida e
continuamente nos mostra, com o seu exemplo, como conservar tudo o que nos
acontece, de modo que possamos discernir a presença e a ação de Deus na nossa
vida (cfr. Lc. 2, 19). Ela teve e tem a mais íntima relação com Jesus e
anima-nos a estar junto d’Ele e a fazer tudo o que Ele manda (Jo. 2, 5). Ela é
o modelo da bem aventurança “felizes os puros de coração”, e ensina-nos a reconhecer
as nossas motivações e a pô-las de acordo com os valores do Evangelho.
Também o profeta Elias, uma das
grandes figuras do Antigo Testamento, é, na sua experiência de Deus e na sua
atividade profética, uma inspiração para todos os Carmelitas; no monte Horeb
encontrou a Deus no silêncio (1 Re. 19, 12), em Israel denunciou a injustiça e
demonstrou o vazio da idolatria. Os Carmelitas procuram a presença de Deus
neles mesmos e ajudam outros a descobrir esta mesma presença na própria vida e
assim a fugir das redes dos numerosos ídolos modernos que escravizam o coração
do homem.
O futuro
O novo milênio orienta as nossas
mentes para o futuro e para os desafios que enfrentaremos. Os Carmelitas
continuarão a servir a Igreja e o mundo com vários tipos de apostolado. A fonte
de toda a atividade deve ser o resultado de uma relação viva com Jesus Cristo,
que se mostra no desejo de servir o povo de Deus.
Nossa Senhora do Carmo nos guie
para a montanha santa, que é Cristo Senhor, porque só nEle encontraremos a
nossa verdadeira felicidade. Desejo que todos os membros da Família Carmelita
sejam fiéis ao carisma que Deus nos deu para o serviço da Igreja e do mundo.
Pe. Josepb Chalmers
*Fonte: Revista “Os Carmelitas” do Centro Internacional
de Informação da Ordem do Carmo (CITOC) – Roma – Itália.